A hibernação é um
mecanismo de sobrevivência utilizado por muitos animais em períodos em que as
condições ambientais se encontram bastante adversas ou ainda quando a
quantidade de alimentos disponível é menor do que a necessária para a
manutenção da temperatura corporal do animal.
A respiração quase cessa, o número de
batimentos cardíacos diminui o metabolismo, ou seja, todo o conjunto de
processos bioquímicos que ocorrem no organismo restringe-se ao mínimo.
Várias adaptações que ocorrem quando
um animal está hibernando:
- O ritmo cardíaco cai a até 2,5% de seu nível
normal. O ritmo cardíaco de uma tâmia diminui para 5 batidas por minuto em
vez das 200 normais.
- A freqüência respiratória cai de 50% a 100%
(sim, 100%). Alguns animais param de respirar completamente. Alguns
répteis atravessam seu período de hibernação sem respirar e mesmo
mamíferos mostraram capacidade de sobreviver com suprimentos de oxigênio
bem reduzidos.
- A consciência é muito diminuída e varia
conforme a espécie, mas muitos animais em hibernação ficam completamente
esquecidos de seu ambiente, sendo quase impossível despertá-los. Se você
fosse despertar um animal hibernando no meio do inverno, talvez o matasse.
Ele usaria tanta energia para despertar que não teria chance de fazer isso
na primavera, mesmo se pudesse reentrar em hibernação.
Com o decorrer do tempo, as reservas
de glicogênio estão quase completamente exauridas e o sistema nervoso precisa
encontrar glicose para manter-se em funcionamento. Inicia-se então o estágio 2,
em que a glicose passa a ser formada por gliconeogênese a partir do glicerol,
de proteínas e de corpos cetônicos, os quais são produzidos pelo metabolismo
dos lipídeos. A elevação dos níveis sanguíneos de corpos cetônicos tem um
efeito negativo no balanço ácido-base sanguíneo. Em relação ao catabolismo das
proteínas, este permanece reduzido. Entretanto, pequenas quantidades de
proteínas são continuamente degradadas tanto para produzir glicose para o
sistema nervoso como para produzir os intermediários do Ciclo de Krebs (fluxo
anapleótico).
Quando as reservas de lipídeos estão
praticamente esgotadas, a demanda de energia do sistema nervoso necessita de
uma nova fonte de glicose. Inicia-se então o estágio 3, em que a glicose é
formada pela gliconeogênese a partir das proteínas, o que eleva os níveis
plasmáticos de nitrogênio.
De forma geral, o esquema acima pode
variar entre diferentes espécies. Por exemplo, algumas aves migratórias iniciam
o catabolismo de proteínas mais cedo quando em jejum.
Expressão gênica durante a hibernação
Recentemente, descobriu-se que os
animais se preparam durante o período de hibernação para sair dela em um
momento seguinte. Ao sair do estado de hibernação, a respiração é reativada e o
corpo do animal se vê inundado por oxigênio, o qual sabemos ser uma molécula
altamente reativa, que passa então a reagir com outras moléculas, produzindo
radicais livres (como o peróxido de hidrogênio – H2O2).
Os radicais livres são moléculas responsáveis por danos celulares em geral, mas
principalmente pelos seus danos em ácidos nucléicos (DNA e RNA).
Para evitar os danos causados pelos
radicais livres, durante a hibernação os animais sintetizam algumas enzimas
antioxidantes como a catalase, a superóxido dismutase e a glutationa
peroxidase. De forma geral, a reação de eliminação de peróxido de hidrogênio é
dada por:
2H2O2 →
2H2O + O2
Ainda em relação à síntese de
proteínas/enzimas específicas, os animais em hibernação expressam de forma
sazonal um inibidor de proteases chamado α2-macroglobulina, o que é
muito importante para evitar a degradação de proteínas. Além disso, tem-se
demonstrado que esta proteína desempenha um papel importante no controle da
coagulação sanguínea, melhorando a microcirculação.
Outros genes expressos durante o
período de hibernação são: UCP2 (Uncoupling Protein 2) no tecido adiposo
branco, UCP3 no músculo esquelético, FABP (heart-type fatty acid biding
protein) no tecido adiposo marrom, no músculo esquelético e no coração,
adipose-type FABP no tecido adiposo marrom e no coração, subunidade 1 da
citocromo-c oxidase e ATP sintase 6/8 nos rins, subunidade 2 da NADH-ubiquinona
oxidoredutase no coração, músculo esquelético e fígado, cadeia leve 1 da
miosina ventricular no coração e no músculo esquelético. Além desses, muitos
outros genes são ativados e inibidos durante tal processo, demonstrando toda a
regulação genética envolvida.
Reaquecimento do animal
Retomando o conhecimento da estrutura
interna da mitocôndria e da fosforilação oxidativa os prótons H+
bombeados através das proteínas da membrana interna da mitocôndria para o
espaço intermembranas retornam à matriz mitocondrial pela proteína ATPsintase,
a qual, ao unir os prótons H+ ao oxigênio molecular (O2),
produz moléculas de água, promovendo fosforilação do ADP, produzindo então as
moléculas de ATP. Nesse sentido, dizemos que o retorno dos prótons H+ (a
favor de um gradiente de concentração e elétrico) está acoplado à síntese de
ATP.
Fosforilação oxidativa
Animais hibernantes e os adaptados à
estivação possuem grandes quantidades de uma proteína chamada UCP (Uncoupling
Protein – proteína desacopladora) na membrana interna de suas mitocôndrias.
Essa proteína, como o próprio nome sugere, desacopla a volta dos prótons H+,
fazendo com que retornem à matriz mitocondrial sem a sua passagem pela
ATPsintase, o que não produz moléculas de ATP. Os prótons H+, ao
retornarem à matriz via UCP, liberam a energia que seria utilizada na formação
de ATP na forma de calor, o que eleva a temperatura do animal.
UCP desacoplando a síntese de ATP. A
energia que seria utilizada na fosforilação do ADP é liberada na forma de
calor.
Se um animal está queimando gordura
ou petiscando nozes armazenadas durante todo o inverno, o que acontece com
todos os resíduos? Nenhuma matéria fecal é produzida porque nada está passando
através do trato digestivo e dos intestinos. Mas o corpo está sempre produzindo
uréia, o produto residual que é o principal componente da urina. Os corpos dos
animais em hibernação são capazes de reciclar a uréia. Os ursos não urinam
durante todo o inverno, mas rompem a uréia transformando-a em aminoácidos.
Ainda que eles não bebam líquidos, não ficam desidratados, pois são capazes de
extrair água suficiente de sua gordura corporal para permanecer hidratados.
Aluno:Guilherme Dias Lopes
Bibliografia:
http://ciencia.hsw.uol.com.br/hibernacao4.htm
http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3927&bd=1&pg=3&lg=
http://ciencia.hsw.uol.com.br/hibernacao3.htm