Sua identidade genética
O Projeto Genoma chega ao fim. Depois de catalogar todos os genes que se escondem na longa molécula de DNA, os cientistas poderão prever o que o destino reserva à nossa saúde. Em breve teremos nosso mapa genético, singular e personalizado.
Dez anos depois de lançado, o empreendimento público mais caro e ambicioso da história da Biologia — a identificação de todos os genes do corpo humano — está quase no fim. Após mobilizar milhares de cientistas de dezesseis laboratórios dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha, França, Alemanha, do Canadá e do Japão e estimular a concorrência de empresas privadas, o Projeto Genoma Humano já está provocando uma intensa transformação na Medicina e na Economia.
"Em termos de ciência básica é o equivalente a pisar pela primeira vez na Lua", diz o biólogo Marcelo Briones, da Universidade Federal de São Paulo. "Em termos de negócio o impacto é grande, pois toda uma indústria farmacêutica ligada à prevenção genética está nascendo." Briones, que estuda o código das células tumorais no programa Genoma Humano do Câncer — um projeto brasileiro paralelo ao internacional, dedicado só às células cancerosas —, sabe que a identificação de cada um dos genes abre a porta para compreender o funcionamento deles. "Uma coisa é ler, outra coisa é interpretar", ressalta. Assim, quando descobrir qual a função dos genes, a ciência entenderá como o DNA determina a sina de cada um de nós, formatando nossa inteligência, orientação sexual, suscetibilidade às doenças e até tendência para o consumo de drogas.
Na prática, os cientistas poderão criar um modelo de DNA da raça humana e compará-lo com o de cada indivíduo. Já existem chips de computador capazes de realizar mais de 1 000 testes genéticos simultaneamente e analisá-los com rapidez. Assim, quando o mapa da nossa identidade genética apresentar alguma anomalia, os médicos saberão de antemão o que isso significa. Estarão em condições de descobrir, por exemplo, se você fabrica uma proteína que, no futuro, produzirá um tumor. Ou, se você já tiver um, prever como ele irá se comportar nos próximos anos — se vai ficar quieto ou se vai crescer e se espalhar.
Isso significa que a Medicina mudará de foco. Já. Vai ser capaz de enfrentar as doenças antes de elas aparecerem. "Em termos de diagnóstico e de prognóstico, o impacto das revelações do Genoma Humano do Câncer poderá começar no ano que vem", anuncia Briones.
Genes malignos podem ser substituídos
Para decifrar a sucessão de letras do código genético, os cientistas do Projeto Genoma escolheram, em 1990, um método preciso, porém lento. Como a molécula de DNA é demasiado grande para ser lida inteira (1,8 metro), optaram por dividir os cromossomos um a um para, então, juntá-los. Seis anos depois, a estratégia foi questionada pelo biólogo americano Craig Venter, membro do projeto. Em 1998, Venter decidiu partir para a aventura por conta própria e criar um método mais rápido. Nele o genoma é fragmentado de uma vez em 70 milhões de bocados aleatórios. O problema posterior — pôr ordem na bagunça — foi remetido para os supercomputadores da companhia fundada por ele, a Celera Genomics. O resultado, afinal, não foi mal.
Em abril passado Craig chegou a anunciar a conclusão do seqüenciamento do código genético de um indivíduo. Todas as bases estavam devidamente catalogadas, só faltava agrupá-las na grande molécula. A notícia caiu como uma bomba dentro e fora da comunidade científica.
Aplicação prática
No Brasil, as pesquisas também avançaram. Em fevereiro último geneticistas brasileiros terminaram a tradução do genoma da Xylella fastidiosa, a bactéria que causa o amarelinho e danifica um terço dos pomares cítricos do país. Vários institutos em São Paulo estão elaborando estratégias de combate à praga.
No mês seguinte foi lançado o Genoma Humano do Câncer. O projeto, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo e pelo Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer, reúne 32 laboratórios nacionais na investigação do DNA de células cancerígenas. O objetivo é identificar os pedaços onde se escondem genes malignos. Até junho, sessenta genes suspeitos de estar envolvidos no câncer de mama foram fichados. O foco principal está nos tumores de estômago, de colo do útero e de cabeça e pescoço, alguns dos mais comuns na população brasileira. A conclusão do seqüenciamento deverá acontecer neste ano ou, no máximo, no início de 2001.
Uma vez realizados, os testes genéticos poderão delatar os genes malignos e prever como será a evolução de uma doença. Com eles será possível identificar, com precisão, proteínas doentes que precisam de terapia química. Ou corrigir o gene defeituoso com a introdução de um gene saudável. "Essas duas técnicas serão viáveis a longo prazo, entre cinco e vinte anos", diz Marcelo Briones.
No mundo todo a Genética está avançando. Graças aos vários projetos genomas em andamento, mais de 3 000 enfermidades já foram catalogadas. Quando a identificação dos genes humanos for terminada, a repercussão será notável. Como as descobertas ainda estão acontecendo, espera-se que, lá pelo ano 2020, um em cada três remédios disponíveis nas drogarias seja fabricado com base em conhecimento genético. O homem poderá mudar o destino da sua saúde.
Fonte : http://super.abril.com.br
www.celera.com
www.nhgri.nih.gov
Postagem : Joice Huller de Oliveira
O texto sobre genoma humano pode sim ser de interesse na área de Biologia Celular, mas, obviamente, tem uma enorme interfase com área de Genética. A biologia celular se interessa sim pelos genes, mas sempre com intuito de entender o seu papel na células e não tão somente a sua estrutura e localização, que seriam estudos mais relacionados à area de Genética. No entando,vamos aproveitar o texto para fazer algumas questões:
ResponderExcluirRealmente, a detecção de um gene defeituoso no genoma de um indíviduo, em qualquer situação, é suficiente para afirmar que esse manifestará uma determinada doença? E a interação genoma-ambiente, que determina o fenótipo, como fica?
Sabemos que há casos de indivíduos com mutações gênicas que não manifestam a doença, ou seja, o defeito do gene não explica tudo. Obviamente, que em vários casos, esse defeitos poderiam ser corrigidos, mas sempre haverão casos em que isso não será possível, porque a manifestação da doença é bastante complexa.
Estou aguardando os comentários!!!
ResponderExcluirSão necessários dois genes com defeito, um do pai e um da mãe para que a pessoa tenha a doença. Então, um gene defeituoso não é o suficiente para afirmar que um indivíduo manisfetará determinada doença.
ResponderExcluirA combinaçao suficiente para isso seria se ambas as partes, pai e mãe, apresentarem um gene defeituoso, porém sabendo se a doença é dominante ou recessiva.
Ana Caroline M. de Arruda
Além de que a interação do indivíduo com o ambiente também tem papel muito importante na manifestação ou nao de uma caracteristica. O fenótipo sofre modificações, já que não fomos estáticos, e sim estamos em contínua transformação.
ResponderExcluirTamires D. Bressan
Pergunto novamente: Qual a interface dessa matéria com a Biologia Celular?
ResponderExcluirAguardo resposta para a questão acima.
ResponderExcluirRelacionar projeto genoma humano e Biologia Celular.
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