terça-feira, 3 de abril de 2012


Guiados pelo brilho
Técnica que torna fluorescentes tecidos cancerosos é testada com sucesso em pacientes com câncer de ovário. O método permitirá que os médicos visualizem com maior precisão a extensão dos tumores em tempo real durante a cirurgia para sua retirada.

Um método desenvolvido por uma equipe internacional de pesquisadores promete melhorar o resultado das cirurgias para retirada de tumores de ovário. Testada com sucesso em pacientes, a técnica fornece imagens fluorescentes das células cancerosas durante a operação, em tempo real, permitindo a identificação mais precisa da extensão do tumor.
O câncer ovariano é a doença ginecológica que mais mata no mundo ocidental. Esse tipo de tumor não tem uma apresentação clínica que permita distingui-lo em seus estágios iniciais, o que frequentemente resulta no diagnóstico da doença em níveis avançados e se traduz em uma alta taxa de mortalidade.
O tratamento mais efetivo consiste na cirurgia de retirada dos tumores visíveis, seguida de quimioterapia. Mas, durante a operação, os médicos nem sempre conseguem determinar facilmente os limites do tumor, e o crescimento das células cancerosas não removidas pode levar à reincidência da doença.
O novo método para auxiliar a identificação dos tecidos malignos, aplicado em pacientes com tumor epitelial de ovário, se baseia no fato de que cerca de 90% desses tipos de câncer apresentam grande expressão de receptores de ácido fólico (proteínas que permitem a interação dessa substância com os mecanismos do metabolismo celular). Os pesquisadores então associaram ácido fólico a marcadores fluorescentes, o que permitiu ‘realçar’ esses receptores – e, consequentemente, as células cancerosas.
Outros estudos já tinham combinado ácido fólico a compostos fluorescentes para mapear células tumorais. Mas esta é a primeira vez que a técnica é testada em humanos. A pesquisa, conduzida por pesquisadores da Holanda, da Alemanha e dos Estados Unidos, foi publicada esta semana no site da revista Nature Medicine.
O composto foi injetado em 10 pacientes entre 41 e 76 anos – sendo cinco com tumor epitelial ovariano maligno e cinco com tumor ovariano benigno – submetidas a cirurgia. Por meio de um sistema de câmeras especialmente projetado, foi possível detectar a fluorescência em quatro pacientes com tumor maligno. Na quinta paciente, não havia expressão dos receptores de ácido fólico, o que impediu que as células cancerosas fossem marcadas. Os tumores benignos e os tecidos normais não mostraram qualquer sinal de fluorescência.
Um dos autores do estudo, Gooitzen van Dam, da Universidade de Groningen (Holanda), explica que, independentemente do estágio do câncer ovariano, cerca de 10% das pacientes não apresentam superexpressão de receptores de ácido fólico, o que inviabiliza a aplicação do método. “Para identificar as pacientes que podem fazer uso da técnica, será preciso determinar a presença desses receptores em tecidos tumorais extraídos antes da cirurgia”, diz.
Eficiente e precisa
Durante os testes, cinco cirurgiões identificaram independentemente os tumores em imagens coloridas comuns e nas com florescência da mesma área. O número de tumores detectados a partir das imagens fluorescentes (34, em média) foi significativamente maior do que os identificados apenas com a observação das imagens coloridas (sete, em média).
Segundo os cientistas, foi possível visualizar em tempo real os tumores por um período de 2 a 8 horas após a injeção do composto de ácido fólico e marcadores fluorescentes. O método não interferiu no procedimento cirúrgico padrão e permitiu a retirada de tumores menores que 1 milímetro. Todos os tecidos fluorescentes foram confirmados como malignos por meio de estudos histopatológicos posteriores.
“A combinação de imagens precisas em tempo real com agentes fluorescentes específicos para o tumor pode mudar o paradigma da cirurgia de inspeção ao permitir a localização de lesões difíceis ou impossíveis de se detectar pela observação visual ou pela palpação”, dizem os autores no artigo. Além disso, eles acreditam que a técnica pode diminuir o número de procedimentos cirúrgicos extensivos desnecessários e a mortalidade associada a eles.
Mas os pesquisadores ressaltam que são necessários estudos com um número maior de pacientes para confirmar os dados e esclarecer a precisão, a sensibilidade e a especificidade da técnica. Eles pretendem estender os testes para uma rede de hospitais na Holanda e nos Estados Unidos para acelerar os estudos clínicos e tornar a tecnologia disponível para a população.
“Nossa estimativa é de que sejam necessários cerca de dois anos até que tenhamos uma resposta definitiva sobre o impacto da cirurgia e seu resultado”, prevê Gooitzen van Dam.
Segundo ele, a técnica também tem grande potencial para uso em pacientes com câncer de pulmão, que apresentam alta expressão de receptores de ácido fólico em 70% dos casos. Como a superexpressão desses receptores varia muito entre os diversos tipos de câncer, os pesquisadores estão agora desenvolvendo e testando marcadores específicos para tumores de mama, pâncreas, próstata, entre outros.


Amanda de Campos

Fonte: Ciência Hoje On-line

7 comentários:

  1. Esclarecer a relação desse artigo com a área de Biologia Celular.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Essa técnica se baseia na presença de receptores de ácido fólico na maioria desses tipos de câncer. Esses receptores são proteínas que permitem a interação entre o ácido fólico e o metabolismo celular.
      As proteínas receptoras desempenham papel fundamental nas membranas biológicas. São estas proteínas que possibilitam à célula interagir com o meio extracelular, participar de processos de migração celular, interpretar sinais vindos do ambiente, que induzem alterações fisiológicas ou no padrão de diferenciação das próprias células, e também atuam no transporte de moléculas através da membrana.
      Outra relação entre o artigo e a biologia celular:
      Os pesquisadores associaram ácido fólico a marcadores fluorescentes. Isso permitiu ‘realçar’ esses receptores – e, consequentemente, as células cancerosas. A microscopia de fluorescência utiliza essa propriedade fluorescente de algumas substâncias para visualizar material biológico. Existem substâncias naturalmente brilhantes (ex. clorofila e parede celular) e outras que se tornam fluorescentes utilizando corantes fluorescentes (fluorocromos).

      Amanda de Campos

      Excluir
  2. Ok Amanda. Aguardo outros comentários???

    ResponderExcluir
  3. Estou aguardando comentários dos demais alunos???

    ResponderExcluir
  4. Outro exemplo de fluorocromo é o corante alaranjado de acridina, que se liga a ácidos nucléicos promovendo fluorescência amarelo-esverdeada ao DNA e avermelhada ao RNA Os componentes observados em microscopia de fluorescência além de auxiliar os estudos patológicos, auxiliam também a área citoquímica.

    Fernanda Carolina da Silva

    ResponderExcluir
  5. VAmos então entender como os fluorocromos podem ser usados para identificar moléculas dentro da célula. Usem o exemplo do próprio texto para explicar. O Alaranjado de acridina somente evidencia DNA e RNA, mas os fluorocromos podem ser usados para identificar inúmeras moléculas celulares, conforme exemplificado no texto.

    ResponderExcluir