Guiados pelo brilho
Técnica que torna fluorescentes tecidos cancerosos é testada com sucesso
em pacientes com câncer de ovário. O método permitirá que os médicos visualizem
com maior precisão a extensão dos tumores em tempo real durante a cirurgia para
sua retirada.
Um método desenvolvido por uma equipe internacional de pesquisadores
promete melhorar o resultado das cirurgias para retirada de tumores de ovário.
Testada com sucesso em pacientes, a técnica fornece imagens fluorescentes das
células cancerosas durante a operação, em tempo real, permitindo a
identificação mais precisa da extensão do tumor.
O câncer ovariano é a doença ginecológica que mais mata no mundo
ocidental. Esse tipo de tumor não tem uma apresentação clínica que permita
distingui-lo em seus estágios iniciais, o que frequentemente resulta no
diagnóstico da doença em níveis avançados e se traduz em uma alta taxa de
mortalidade.
O tratamento mais efetivo consiste na cirurgia de retirada dos tumores
visíveis, seguida de quimioterapia. Mas, durante a operação, os médicos nem
sempre conseguem determinar facilmente os limites do tumor, e o crescimento das
células cancerosas não removidas pode levar à reincidência da doença.
O novo método para auxiliar a identificação dos tecidos malignos,
aplicado em pacientes com tumor epitelial de ovário, se baseia no fato de que cerca
de 90% desses tipos de câncer apresentam grande expressão de receptores de
ácido fólico (proteínas que permitem a interação dessa substância com os
mecanismos do metabolismo celular). Os pesquisadores então associaram ácido
fólico a marcadores fluorescentes, o que permitiu ‘realçar’ esses receptores –
e, consequentemente, as células cancerosas.
Outros estudos já tinham combinado ácido fólico a compostos
fluorescentes para mapear células tumorais. Mas esta é a primeira vez que a
técnica é testada em humanos.
A pesquisa, conduzida por pesquisadores da Holanda, da Alemanha e dos Estados
Unidos, foi publicada esta semana no site da
revista Nature Medicine.
O composto foi injetado em 10 pacientes entre 41 e 76 anos – sendo cinco
com tumor epitelial ovariano maligno e cinco com tumor ovariano benigno –
submetidas a cirurgia. Por meio de um sistema de câmeras especialmente
projetado, foi possível detectar a fluorescência em quatro pacientes com tumor
maligno. Na quinta paciente, não havia expressão dos receptores de ácido
fólico, o que impediu que as células cancerosas fossem marcadas. Os tumores
benignos e os tecidos normais não mostraram qualquer sinal de fluorescência.
Um dos autores do estudo, Gooitzen van Dam, da Universidade de Groningen
(Holanda), explica que, independentemente do estágio do câncer ovariano, cerca
de 10% das pacientes não apresentam superexpressão de receptores de ácido
fólico, o que inviabiliza a aplicação do método. “Para identificar as pacientes
que podem fazer uso da técnica, será preciso determinar a presença desses
receptores em tecidos tumorais extraídos antes da cirurgia”, diz.
Eficiente e precisa
Durante os testes, cinco cirurgiões identificaram independentemente os
tumores em imagens coloridas comuns e nas com florescência da mesma área. O
número de tumores detectados a partir das imagens fluorescentes (34, em média)
foi significativamente maior do que os identificados apenas com a observação
das imagens coloridas (sete, em média).
Segundo os cientistas, foi possível visualizar em tempo real os tumores por
um período de 2 a 8 horas após a injeção do composto de ácido fólico e
marcadores fluorescentes. O método não interferiu no procedimento cirúrgico
padrão e permitiu a retirada de tumores menores que 1 milímetro. Todos os
tecidos fluorescentes foram confirmados como malignos por meio de estudos
histopatológicos posteriores.
“A combinação de imagens precisas em tempo real com agentes
fluorescentes específicos para o tumor pode mudar o paradigma da cirurgia de
inspeção ao permitir a localização de lesões difíceis ou impossíveis de se
detectar pela observação visual ou pela palpação”, dizem os autores no artigo.
Além disso, eles acreditam que a técnica pode diminuir o número de
procedimentos cirúrgicos extensivos desnecessários e a mortalidade associada a eles.
Mas os pesquisadores ressaltam que são necessários estudos com um número
maior de pacientes para confirmar os dados e esclarecer a precisão, a
sensibilidade e a especificidade da técnica. Eles pretendem estender os testes
para uma rede de hospitais na Holanda e nos Estados Unidos para acelerar os
estudos clínicos e tornar a tecnologia disponível para a população.
“Nossa estimativa é de que sejam necessários cerca de dois anos até que
tenhamos uma resposta definitiva sobre o impacto da cirurgia e seu resultado”,
prevê Gooitzen van Dam.
Segundo ele, a técnica também tem grande potencial para uso em pacientes
com câncer de pulmão, que apresentam alta expressão de receptores de ácido
fólico em 70% dos casos. Como a superexpressão desses receptores varia muito
entre os diversos tipos de câncer, os pesquisadores estão agora desenvolvendo e
testando marcadores específicos para tumores de mama, pâncreas, próstata, entre
outros.
Amanda de Campos
Fonte: Ciência Hoje On-line
Esclarecer a relação desse artigo com a área de Biologia Celular.
ResponderExcluirEssa técnica se baseia na presença de receptores de ácido fólico na maioria desses tipos de câncer. Esses receptores são proteínas que permitem a interação entre o ácido fólico e o metabolismo celular.
ExcluirAs proteínas receptoras desempenham papel fundamental nas membranas biológicas. São estas proteínas que possibilitam à célula interagir com o meio extracelular, participar de processos de migração celular, interpretar sinais vindos do ambiente, que induzem alterações fisiológicas ou no padrão de diferenciação das próprias células, e também atuam no transporte de moléculas através da membrana.
Outra relação entre o artigo e a biologia celular:
Os pesquisadores associaram ácido fólico a marcadores fluorescentes. Isso permitiu ‘realçar’ esses receptores – e, consequentemente, as células cancerosas. A microscopia de fluorescência utiliza essa propriedade fluorescente de algumas substâncias para visualizar material biológico. Existem substâncias naturalmente brilhantes (ex. clorofila e parede celular) e outras que se tornam fluorescentes utilizando corantes fluorescentes (fluorocromos).
Amanda de Campos
Ok Amanda. Aguardo outros comentários???
ResponderExcluirEstou aguardando comentários dos demais alunos???
ResponderExcluirContinuo aguardando...
ResponderExcluirOutro exemplo de fluorocromo é o corante alaranjado de acridina, que se liga a ácidos nucléicos promovendo fluorescência amarelo-esverdeada ao DNA e avermelhada ao RNA Os componentes observados em microscopia de fluorescência além de auxiliar os estudos patológicos, auxiliam também a área citoquímica.
ResponderExcluirFernanda Carolina da Silva
VAmos então entender como os fluorocromos podem ser usados para identificar moléculas dentro da célula. Usem o exemplo do próprio texto para explicar. O Alaranjado de acridina somente evidencia DNA e RNA, mas os fluorocromos podem ser usados para identificar inúmeras moléculas celulares, conforme exemplificado no texto.
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